Rafael Araujo
Diretor da Regional Minas Gerais da Associação Brasileira das Agências de Comunicação
No último domingo, a Drogaria Araujo anunciou publicamente que busca uma nova agência de publicidade. Nada demais, afinal concorrências são parte da rotina do mercado. O detalhe - e que muda tudo - estava no título da publicação, em negrito: “agências mineiras”.
A Araujo é mineira com orgulho. Em mais de 120 anos de história, tornou-se símbolo de Belo Horizonte, patrimônio afetivo dos mineiros e parte do nosso imaginário coletivo. Nossos filhos crescem brincando com os carrinhos de compras em miniatura; nossos pais e avós se sentem num parque de diversões.
E como uma empresa segura de si, com autoestima alta, a Araujo não dá tanta importância aos superlativos, tampouco ao que vem de fora em detrimento dos que estão lado a lado. Ela valoriza o sotaque, o jeito de ser e agir. A paciência, o jogo de cintura, o respeito às relações.
Ao selecionar uma nova agência de publicidade “mineira" e publicizá-la aos quatro ventos, a Araujo demonstra valor ao nosso mercado.
Em tempos em que a velocidade e o exibicionismo ainda ditam o ritmo dos negócios, a atitude da Araujo resgata valores que são, paradoxalmente, modernos: a confiança construída nas relações, a simplicidade com propósito e a criatividade silenciosa que nasce da observação dedicada.
E se essa moda pega?
E se outras empresas mineiras também se voltassem para dentro antes de mirar o que vem de fora? E se reconhecessem o valor das agências, consultorias e fornecedores que compartilham a mesma cultura, a mesma visão de mundo e a mesma cadência da vida mineira? Vale para a publicidade, a comunicação corporativa, o live marketing, o digital…
Não se trata de território geográfico tampouco reserva de mercado, mas sim de reconhecer atributo e identidade. Ser mineiro é ter tato, método e alma. É saber que confiança se conquista na profundidade de uma apresentação formal e também na gentileza no cafezinho. É ir além da entrega.
É claro que cabe às agências mineiras serem competentes o bastante para responder bem aos desafios e expectativas dos clientes. Exige preparo, governança, estrutura, equipe, processos, enfim, Gestão. Para responder por grandes marcas precisa ter lastro reputacional e empresarial. É de dentro pra fora.
Mineiridade não pode ser desculpa para amadorismo. É combustível para a qualidade. Prova disso é que muitas agências de comunicação corporativa mineiras estão presentes em diversos estados brasileiros. Mais uma vez, não é a localização, é a identidade.
Vivemos um tempo em que o “ser” volta a ter tanto valor quanto o “parecer ser”. Empresas e marcas que entendem isso estão mais próximas de construir relações duradouras. Reputação importa - e muito! Nesse sentido, a Araujo não apenas faz uma concorrência: ela lança um manifesto.
Que outras empresas também sigam o exemplo. Que valorizem o que é nosso, que reconheçam o talento local e o transformem em potência coletiva.
Mineiridade nos negócios é atributo. Sem folclore, com estratégia.
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