Líderes sociais e participantes da Cúpula dos Povos na COP 30 discutem o futuro climático e unificam as lutas globais.
Publicado em 14/11/2025 17:18
Cúpula dos Povos
Carolynne Matos/MAB

BELÉM (PA) – O debate sobre o clima e o futuro social ocupou o centro das atenções no Tema 3 da Plenária da Cúpula dos Povos, com a participação de líderes proeminentes que defendem uma transformação radical dos modelos econômicos atuais. O debate reuniu perspectivas globais e locais, com foco no desmantelamento do sistema de exploração e comercialização dos recursos naturais e na garantia dos direitos dos povos do Sul Global.

Demanda por transformação sistêmica e democrática

Fernando Tormos-Aponte, sociólogo político, pesquisador e membro da Aliança para uma Transição Justa nos Estados Unidos, articulou a necessidade de mudanças que vão além de soluções baseadas no mercado. Seu discurso apontou diretamente para a raiz estrutural das crises:

“Exigimos ação contra o sistema capitalista, racista e patriarcal que prioriza sistematicamente o lucro e a acumulação em detrimento da vida e da natureza. Vemos o impacto desse sistema na privatização de todos os serviços sociais, onde tudo o que não gera lucro é considerado indigno de atenção. Propomos, portanto, um sistema diferente que não coloque o lucro acima da vida. E para isso, precisamos de uma transformação sistêmica. Sabemos que essa transformação é um processo que envolve outras pessoas afetadas por essas transições. E isso é um compromisso com a democracia.”

A perspectiva da classe trabalhadora brasileira foi apresentada por Rosalina Amorim, Secretária Nacional do Meio Ambiente da Central Unificada dos Trabalhadores (CUT), que enfatizou a necessidade urgente de democratizar a energia. Amorim criticou veementemente a forma como a transição energética tem sido implementada, deixando de garantir o acesso às comunidades mais remotas e penalizando a classe trabalhadora. Ela ressaltou a necessidade de estar na vanguarda da discussão para garantir que a energia não se torne mais um fator de exclusão e que a classe trabalhadora não seja a principal vítima desse processo.

O ativista Farai Maguwu, Diretor Fundador do CNRG (Centro para a Governança de Recursos Naturais) no Zimbábue, participou do debate, contribuindo com a perspectiva africana sobre a luta contra a exploração e comercialização de recursos naturais e as violações de direitos humanos associadas a esse comércio. Seu trabalho, em particular na denúncia de crimes relacionados a diamantes no Zimbábue, reforça a necessidade de controlar o capital transnacional e garantir a soberania sobre os recursos naturais.

O consenso no Eixo 3 da Sessão Plenária é que a Transição Justa e Popular deve ser um processo guiado pela democracia, pela justiça social e pelo abandono de um sistema que coloca o lucro acima da vida.

Em comum: a dor une as lutas globais na Cúpula dos Povos.

A Sessão Plenária do Tema 3 na Cúpula dos Povos abriu espaço para um momento de fundamental importância: a troca direta das dores e injustiças sentidas em diferentes partes do mundo. A força desse momento reside na constatação de que, embora atuem em diferentes países e organizações, os ativistas são movidos por um impulso comum: o de confrontar os flagelos gerados pelo mesmo sistema capitalista e explorador.

As narrativas convergiram em uma única direção, comprovando que a crise é sistêmica. Maria das Graças Lima Bento, afetada pelos crimes da Samarco, da VALE e da BHP (a barragem de Fundão em 2015) em Mariana, mencionou a tragédia que vivenciou em Barra Longa, Minas Gerais. Ao descrever a devastação causada pelo deslizamento de terra que colocou em risco terras agrícolas e a renda familiar, ela enfatizou que a luta por direitos arduamente conquistados — como o Programa de Transferência de Renda (PTR) — já dura dez anos, e que sua participação é um ato de solidariedade a todos os afetados, seja por barragens ou outras formas de exploração.

Essa luta contra a negação de direitos encontra eco em críticas diretas às estruturas de poder. Moira, uma ativista mapuche da Patagônia, fez um poderoso apelo por uma mudança no paradigma político, argumentando que a terra, e não apenas as pessoas, deve ser reconhecida como sujeito histórico e social nas discussões democráticas. Ela criticou duramente os atuais “modelos de países que negam os direitos dos povos indígenas e, sobretudo, que lhes negam suas terras”, classificando as nações sul-americanas como “repúblicas coloniais”.

A responsabilidade global por essa estrutura foi destacada por Tyrone Scott, da organização britânica War on Want. Scott definiu a Cúpula como um processo coletivo de idealização e organização de movimentos na América Latina, África, Ásia e Europa que se recusam a ver a ideia de transição "capturada" pelo status quo. Scott chamou a atenção para a responsabilidade histórica e contínua do Norte Global pelo caos climático e pela morte ecológica, argumentando que não pode haver uma transição justa no Sul sem responsabilizar as nações ricas e as corporações por causarem a crise.

Em essência, os discursos, unidos pela mesma motivação, ecoam a crítica feita por Rosalina Amorim (CUT Brasil) no início da sessão plenária: a rejeição de qualquer transformação energética implementada sem garantir o acesso às comunidades mais remotas ou que penalize a classe trabalhadora, reforçando a urgência da democratização da energia e dos recursos. O clamor coletivo é claro: a dor da exploração capitalista é a força motriz por trás da construção de uma frente única por um futuro justo.

Encerramento:
Com a conclusão das contribuições, o eixo Transição Justa, Inclusiva e Popular se encerra, celebrando a Unidade e a Esperança que caracterizam os espaços da Cúpula dos Povos. O documento de síntese, enriquecido pelas contribuições de quase 30 ativistas, seguirá agora para a Declaração Final, e todos os participantes estão convidados a se dirigir à Tenda da Solidariedade, onde se encontrarão com os demais eixos em um passo crucial para a consolidação de uma frente de luta unificada.

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