Belém (PA) – O quinto dia do IV Encontro Internacional das Comunidades Atingidas por Barragens e Crise Climática foi dedicado à sistematização e apresentação dos consensos globais que formarão a Carta da Cúpula e a consolidação de uma unicidade internacional do Movimento de Atingidos
O esforço resultou na consolidação de um documento robusto, fruto do trabalho coletivo e histórico de dezenas de organizações dos cinco continentes, que reflete a experiência de luta e resistência de base contra o capitalismo e a exploração. A plenária recebeu a apresentação dos consensos globais, estruturados em três seções:
O Movimento Internacional de Atingidos consolidou em Belém um documento político que responsabiliza o modo de produção capitalista e extrativista como a principal causa da crise multifacetada e climática global, denunciando que este sistema alia-se a extrema-direita para criminalizar movimentos e garantir a destruição em escala planetária. A partir dessa conjuntura, o movimento definiu cinco pilares estratégicos para a luta: Vitórias concretas e a exigência de Justiça Ambiental Internacional; o fortalecimento da Organização de base (marxista) para a unicidade do movimento; a adoção de uma Formação revolucionária que resgate a sabedoria popular; o uso da Comunicação e contra-informação para disputar o relato dominante; e a garantia do protagonismo de Mulheres e Jovens, pilares da resistência, com estratégias de autonomia e paridade.
A unificação desses consensos se traduz em exigências diretas de Políticas e Direitos aos governos, focadas na responsabilização legal das empresas por danos e violações. O documento exige o fim da romantização das represas, que causam "morte e perda de cultura", e alerta que qualquer Transição Energética Justa deve ser conduzida sem transformar territórios ancestrais em "terrenos de sacrifício". O objetivo final é combater a impunidade, avançar na definição legal de quem é o atingido e garantir que as conquistas não imobilizem a busca por mudanças estruturais no sistema.
Julio Castro, brasileiro e membro do Movimento de Atingidos por Barragens de Minas Gerais afirma que esse momento “é um esforço coletivo e histórico” na caminhada de atingidas e atingidos de todo o mundo.
Barqueata histórica: Marca a abertura da Cúpula dos Povos e entrega da Carta dos atingidos
A Barqueata da Cúpula dos Povos se consolidará como o ato mais contundente do evento paralelo à COP30, reunindo cerca de 5 mil pessoas em mais de 200 embarcações na Baía do Guajará, em Belém, nesta quarta-feira, 12 de novembro, a partir das 9h.
O ato, que se inicia na UFPA e percorre o Rio Guamá até a emblemática Vila da Barca, margeando o Rio Guajará, representa a grandiosidade da mobilização social e a denúncia viva contra as falsas soluções climáticas que são negociadas nas mesas oficiais da Conferência do Clima. Em um percurso de 4,5 milhas náuticas, partindo de quatro portos próximos à UFPA, o manifesto fluvial exporá as contradições da COP, ao passar por uma área de palafitas que resiste à especulação imobiliária e à exclusão do saneamento, mostrando como as decisões globais historicamente ignoram os mais impactados pela crise climática.
Este momento histórico, que fará ecoar as vozes de comunidades dos cinco continentes, está ligado ao trabalho finalizado no IV Encontro Internacional de Atingidos por Barragens e Crise Climática. A Carta da Cúpula, documento político que sistematiza as exigências de Justiça Ambiental Internacional e a responsabilização legal das corporações — os mesmos atores que dominam as negociações da COP 30, será recebida e projetada durante o Seminário Internacional sobre as realidades das populações atingidas - Ato político de encerramento do encontro, que acontecerá na tarde desta quarta-feira, 12/11, no Centro de eventos Benedito Nunes (CEBN) - UFPA.
A mobilização, que conta com a presença de lideranças como o cacique Raoni Metuktire e Alessandra Korap Munduruku na "Caravana da Resposta", reforça a visão de que a participação popular e a escuta das comunidades são a única condição para a justiça se efetivar. A denúncia da destruição causada pelo barramento dos rios e por projetos como a Ferrogrão e hidrovias do Arco Norte, mostra que a resposta à crise climática está na agroecologia e na solidariedade dos povos que protegem os rios, a floresta e o mar, e não no modelo de lucros defendido pelas transnacionais.
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