Belém (PA) — Nesta quarta-feira, 12 de novembro, a partir das 9h da manhã, mais de 200 embarcações transportando cerca de 5 mil pessoas vão se reunir na Baía do Guajará, em frente à capital paraense, em um dos momentos mais simbólicos da Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP30.
A Barqueata da Cúpula reunirá caravanas que partiram de outros municípios, Estados e países para denunciar falsas soluções climáticas e anunciar que a resposta para um mundo sustentável é o povo das águas, das florestas e das periferias que resiste com suas práticas coletivas, agroecológicas e ancestrais.
A Barqueada terá na Universidade Federal do Pará (UFPA), Augusto Corrêa, território da Cúpula dos Povos, e seguirá margeando o rio Guamá que depois vira rio Guajará para chegar até a Vila da Barca, área de palafitas que é um enclave social, pois, parte das moradias vive sem nenhum saneamento. São décadas de resistência dos moradores à especulação imobiliária e à falta de atenção do poder público.
Na preparação da cidade para a COP 30, a Vila da Barca receberia uma estação de tratamento do esgoto de bairro de classe média embelezado nos últimos meses para compor a paisagem turística. Assim, a área tornou-se um exemplo das contradições das conferências que tomam decisões equivocadas, ignorando os mais impactados pelos eventos climáticos extremos.
Essas contradições serão expostas em faixas, cartazes que ornamentarão barcos de grande e pequeno porte em um percurso de 4,5 milhas náuticas. A expectativa é sair de quatro portos próximos à UFPA e navegar por cerca de duas horas, tempo médio que leva em consideração a força da maré.
“Estamos alinhados e achamos que vai ser histórico!”, diz Iury Paulino, membro da Comissão Política da Cúpula dos Povos e coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). O barramento dos rios está entre as ações corporativas e infraestruturas denunciadas por causarem impactos que cada vez mais contribuem para a crise climática como mudança no curso das águas, assoreamentos, extinção de espécies, inundações de áreas que antes eram de floresta e expulsão de comunidades guardiãs de práticas de preservação.
Esses impactos também são enfrentados pelos pescadores que mantém histórica relação cultural com o mar. Ribeirinhos e pescadores de todo o mundo sofrem diretamente com as contaminações dos rios e áreas costeiras causadas pela exploração mineral e pelos vazamentos de produtos químicos. No Brasil, os rompimentos das barragens da Vale em Mariana (2015) e Brumadinho (2019) provocaram centenas de mortes, destruição de comunidades e graves danos ambientais, contaminando rios e ecossistemas. No Equador, o rompimento do oleoduto SOTE, operado por uma estatal, fez vazar petróleo no Esmeraldas River, em março de 2025, e despejou mais de 25.000 barris de crude, contaminando água potável, rios e comunidades costeiras.
Por isso, os movimentos e organizações da Cúpula dos Povos se unem para fazer ecoar sobre as águas o grito de denúncia contra decisões da COP que mantém esse modelo de exploração dos territórios. E contra as corporações que atuam fortemente nos espaços de decisão das Conferências para impedir que metas mais ousadas de redução da exploração dos bens naturais, mitigação e reparação dos danos estejam definidas nas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que são as metas de cada país para reduzir emissões de gases de efeito estufa e se adaptar às mudanças climáticas, conforme estabelecido no Acordo de Paris.
Programação da Cúpula dos Povos na COP30
12 de novembro, (quarta-feira) - A manhã será marcada pela Barqueata no Rio Guamá, quando barcos vindos de diversas comunidades ribeirinhas vão chegar em Belém e se somam a delegações nacionais e internacionais, com a participação de aproximadamente 150 embarcações. Das 15h às 17h acontece o momento de acolhida das delegações no palco principal onde haverá uma grande concentração de pessoas para a abertura da Cúpula dos Povos entre 17 e 19h. O primeiro dia será encerrado com um grande show cultural no palco principal popular.
No dia 13 de novembro, (quinta-feira), começam as atividades temáticas articuladas em torno dos eixos de convergência do evento. Oficinas, rodas de diálogo, plenárias e trocas de experiências serão conduzidas com base nos saberes territoriais, fortalecendo a conexão entre luta climática e justiça social. Essa etapa inicial das discussões tem como objetivo identificar os principais desafios enfrentados pelas comunidades e mapear as soluções já existentes nos territórios. Das 8h30 às 12h haverá as plenárias mundiais sobre os eixos (1, 2 e 3) Soberania, Reparação e Transição, respectivamente. Teremos também a Cúpula das Infâncias e a Feira Popular. No período da tarde, entre 14 e 18h, atividades de Enlaces dos Eixos de Convergência e à noite, das 19h às 22h, atividades culturais, sessões informativas sobre as negociações e mobilizações.
O terceiro dia 14 de novembro (sexta-feira), será dedicado à consolidação das propostas surgidas nas atividades anteriores. Esse é o momento de síntese política, no qual os conteúdos levantados pelos movimentos começam a ser organizados em contribuições que irão compor a declaração final. Grupos de trabalho e assembleias temáticas serão responsáveis por dar corpo às reivindicações e prioridades que serão apresentadas ao mundo. Assim, das 8h30 às 12h, os trabalhos retornam com o Eixo 4 – Internacionalismo; Eixo 5 – Cidades e Eixo 6, Mulheres. Haverá Intervenções culturais ao longo das plenárias e a Cúpula das Infâncias. No período da tarde, das 14h às 16h, atividades Enlaces dos Eixos de Convergência, Assembleia dos Movimentos Sociais, Seminário “Saúde e Clima”. E das 16h às 18h - Plenária final - apresentação das sínteses dos eixos e consolidação da declaração dos Povos.
Em *15 de novembro (sábado),*acontece a grande marcha popular, ato de caráter internacional e público. Essa mobilização reunirá povos originários, quilombolas, juventudes, trabalhadores urbanos e rurais, organizações feministas, coletivos ambientais, sindicatos e redes internacionais. A marcha expressa a voz coletiva da Cúpula e marca o ponto mais visível de demonstração popular, lembrando que a justiça climática está diretamente ligada à defesa da vida e dos territórios. A Marcha Unificada acontecerá das 8h30 às 11h, com expectativa de reunir mais de 20 mil pessoas. Na sequência haverá uma coletiva de imprensa em que os porta-vozes estarão à disposição para informes e esclarecimentos sobre as principais discussões da Cúpula dos Povos.
Por fim, no dia 16 de novembro (domingo), ocorre o encerramento da programação com a leitura e apresentação da declaração final construída ao longo da Cúpula. O documento sintetizará as propostas debatidas nos eixos, reforçando compromissos e apontando caminhos para uma transição justa baseada na soberania dos povos, na proteção dos territórios e no fim das falsas soluções corporativas. Das 9h às 11h, haverá uma audiência pública com a presidência da COP para apresentação da agenda política da Cúpula dos Povos e logo após haverá o ato de encerramento. À tarde, às 14h, acontecerá um Banquetaço na Praça da República.
Mais do que uma série de atividades, a programação da Cúpula dos Povos reflete uma forma diferente de pensar o clima: de baixo para cima, com protagonismo popular e territorialidade. Cada dia da programação é uma etapa viva de construção coletiva e demonstra que o enfrentamento à crise climática passa, necessariamente, pelo fortalecimento das comunidades que já protegem e regeneram os biomas. A Cúpula convoca a sociedade a participar não como espectadora, mas como sujeito ativo na construção de um outro modelo de futuro.
Assine a Newsletter da Rádio das Gerias e fique por dentro de tudo que acontece no Brasil e no mundo!